Reality Tours: Turismo na Favela da Rocinha

Podendo ser nos campos de concentração de Auschwitz ou na Rocinha, os Reality Tours ou, turismo de realidade, vem ganhando espaço entre os turistas cada vez mais. Essa segmentação do turismo leva os visitantes a lugares que na maioria das vezes não são tão requisitados. O público dessa categoria geralmente busca fortes emoções e ao mesmo tempo, conhecer a história do local que passou por conflitos e poder tirar boas experiências e lições do que com certeza é mais que um simples passei turístico.

21_mvg_rio_rocinha               Desde 1992 a Rocinha não é mais classificada como favela, e sim bairro. Porém, por mais que a classificação oficial tenha mudado, na prática os turistas saem dizendo que visitaram uma típica favela. É realmente complicado dizer o quanto a Rocinha é ou não uma favela. Do alto do morro o cenário é paradoxal. A maioria das casas é simples, mas a vista é a mesma dos condomínios de São Conrado. Além disso, são casas sem pintura, mas com caixa d'água e antena parabólica. São ruas estreitas, mas com calçamento e carros relativamente novos. Tem tampas de esgoto estouradas, mas tem garis por toda parte. Tem "gatos" nos postes de luz, mas tem casa de internet Access.

Fonte: www.rocinha.com

  Atualmente, só a Rocinha recebe mais de 2000 visitantes por mês, levados por agências que operam passeios dentro do local. E, além desta, Morro da Babilônia, Morro dos Prazeres e, mais recentemente, Morro da Providência também já recebem turistas do mundo todo.

Esse tema tem causado polêmica, pois questiona dilemas éticos, recorrentes da exposição dos moradores ao público que o visita. Até que ponto é correto expor como atração turística a situação que os moradores da comunidade vivem? Por outro lado, também levanta questões como: Quais estratégias são adotadas pelos promotores turísticos para convencer o público potencial à visitar o local que possui uma imagem diretamente ligada à pobreza e violência? Como tornar uma favela em uma atração turística? E, acredito que a principal questão: Qual os benefícios que essa atividade trará à comunidade local?

Creio ser necessário trabalhar a construção da imagem “favela” como destino turístico com base em três principais questões:

1) Como atrativo para o exterior, dentro da segmentação turismo de realidade;

2) na questão de consumo da comunidade, em nível global, com a imagem a que está automaticamente ligada, a da pobreza, violência e, ao mesmo tempo, à imagem da autenticidade da localidade;

3) e, por fim, é necessário verificar se a comunidade está realmente interessada em receber os turistas no local onde vivem e de que maneira isso poderá ser algo que ajude no desenvolvimento da localidade sem agredi-la.

O turismo dentro da Rocinha, por exemplo, é organizado por agentes externos que cobram cerca de R$35,00 por pessoa para um tour de duração aproximada de 4 horas. Durante o passeio, os visitantes, na sua maioria estrangeiros, aprendem sobre a história e o cotidiano de uma favela, visitam os principais pontos como a Rua 1, onde ocorre a maior concentração do comércio da Rocinha, lá podem adquirir artesanato produzido pela população, camisetas, quadros, esculturas e demais artigos fabricados, visitam projetos sociais desenvolvidos dentro da comunidade, podendo fazer doações e, conferem a cidade do Rio de Janeiro da sua melhor vista.

Uma das grandes perguntas feitas sobre esse assunto é: O que leva turistas estrangeiros, diante das tantas atrações do Rio, acabarem por optar conhecer uma favela?

Durante minha visita ao Rio no início do ano, tive a oportunidade de conversar com o guia e presenciar um grupo que iria visitar a Rocinha ( maioria europeus) e fiz essa mesma pergunta a alguns dos turistas e ao guia. Como resposta ouvi variadas opiniões e motivos para o passeio, entre elas conhecer a cultura do local, ver como “aquelas casinhas ficam em pé no morro”, outros ainda querem ver mais de perto o que eles viram na tv, ainda há aqueles que querem de certa maneira ajudar a comunidade.

O que acontece na maioria das vezes, de acordo com o guia, é que os turistas vão para o roteiro com uma imagem formada, geralmente a que eles assistiram pela mídia e quando se deparam com a realidade da Rocinha, voltam com outra opinião, acham que irão ver somente pobreza e violência, porém eles se deparam com casas, academias, casas de shows, restaurantes, postos de saúde e demais serviços prestados dentro da comunidade, além de uma vista privilegiada da cidade. Acabam saindo com uma impressão totalmente diferente da que tinham antes de realizarem o passeio e ainda recomendam à outras pessoas.

 

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A Rocinha em números

A ex-favela abriga hoje cerca de 2500 estabelecimentos comerciais dos mais variados tipos:

02 linhas de ônibus                            02 bancos

02 rádios                                           03 casas de shows

04 escolas                                         01 Correio

03 Jornais                                         02 Postos de saúde

02 supermercados                             01 empresa de ônibus

01 operadora de TV a cabo                 01 Teatro

Fonte: www.rocinha.com

rocinha-favela Apesar de toda a polêmica, comentários de que a atividade é de mau gosto e demais críticas, não podemos negar que é algo lucrativo para os 3 lados.  As empresas faturam com essa nova demanda. Os turistas conhecem a “outra cara” da cidade e  ganham uma grande experiência e mudam seus conceitos sobre a favela. A comunidade é valorizada e se torna menos estigmatizada e além disso, é através do turismo que outras grandes empresas conseguem entrar em contato com a Rocinha para ajudar em projetos sociais e fazer doações à comunidade.

Acredito que o roteiro pode ser realizado, mas desde que seja, como já foi dito, algo sustentável e busque de alguma maneira ajudar as pessoas que vivem no local, já que o turismo é de fato um meio de estar desenvolvendo socialmente e economicamente a localidade. Quanto à delicada relação entre o turismo e o tráfico, é necessário informar que há uma grande variação de favela para favela. Na Rocinha, por exemplo, desde que a presença do turismo não atrapalhe o “movimento”, parece não haver problemas, nem mesmo necessidade de negociação direta entre agências e traficantes. Já em outras favelas, alguns passeios tiveram que ser negociados e até paralisados depois que um traficante ordenou, da cadeia, que não fossem mais feitas visitas de turistas àquela favela. E, por fim, novamente deve ser lembrado que o produto turístico como favela, deve ser trabalhado no quesito da interpretação do local para cada parte envolvida e saber lidar com essas situações. Qual imagem o turista tem da favela e da comunidade e qual imagem ele vai possuir após sua visita? Qual a imagem e opinião da comunidade sobre os visitantes e os roteiros? A comunidade realmente quer esse tipo de atividade? Com isso, creio que os roteiros dentro de favelas podem estar ajudando o local, principalmente na mudança da imagem de seus moradores trazendo assim, uma valorização para os mesmos e benefícios para todas as partes do modo correto.